Quem tem renda vitalícia de previdência privada pode ficar sem dinheiro?

Os juros não são permitidos no Brasil nos últimos três anos, e um gestor está usando uma camisa para entregar uma aposentadoria de quem investiu em previdência privada e optou pela renda mensal vitalícia. Afinal, o rendimento dos fundos de renda tradicionais fixos – que sempre garantem um retorno sem grandes riscos – agora é possível recuperar a economia.

A lei diz que a empresa de previdência privada tem obrigação de cumprir o acordo fechado com o cliente que optou pela renda vitalícia. Se o gestor não percebeu a queda dos juros e acabou promovendo ao investidor um rendimento que hoje se tornou difícil de entregar, ou o problema é dele.

Risco de faltar dinheiro para todos?

Mas aqui está mais o perigo. Quando o capital gerado por uma empresa de previdência privada não é suficiente para cumprir os pagamentos prometidos, uma Susep (Superintendência de Seguros Privados), que regulamento ou setor, determina o bloqueio da empresa.

Os clientes dessa empresa até têm preferência nos ativos que estão lá. Mas se uma instituição precisa exatamente porque havia um déficit, então não haverá dinheiro para todo o mundo.

A situação do investidor torna-se ainda mais difícil porque a portabilidade da previdência privada – possibilidade de transferir recursos de uma empresa para outra – só é permitida durante uma fase de acumulação. Quando começa a receber aposentadoria, já não pode mais mudar.

Renda vitalícia ameaçada?

Na hora de acessar o dinheiro da previdência privada, quem optar pela renda vitalícia será atingido com o gestor uma renda mensal que será pago pelo restante da vida do cliente.

Para isso, uma empresa de previdência privada faz cálculos e define um valor a ser pago mensalmente ao investidor. Entram nessa conta vários fatores, como expectativa de vida e taxas de juros que vão corrigir o bolo de dinheiro aplicado ao longo do tempo.

E aqui entra o problema de haver juros. Há três anos, quando a Selic estava em 14,25% ao ano, os clientes que optaram por esse acordo para acessar a aposentadoria, conseguiram taxas de rendimento de 4% ao ano mais para economizar suas aplicações. Um objetivo que é difícil de ser alcançado sem correr riscos agora.

“É um tema que merece ser analisado com cuidado pelo investidor”, afirma o coordenador do MBA de Previdência Complementar da FGV, Gilvan Cândido.

O professor da FGV reduziu a inflação até 2019 em 4,31%, enquanto a Selic está em 4,5%. Por isso, gestores que prometem aos seus clientes uma renda econômica em um ganho real ao ano – acima da inflação – de 4%, por exemplo, consideram uma exigência desafiadora.

Prova disso, são as categorias de fundos mais conservadores, que aplicam apenas em títulos do governo com vencimentos mais curtos. Elas perdem rendimento. Em 2015, por exemplo, essas carteiras rendem até 13% ao ano. Em 2019, o ganho anual não passou de 5,76%, conforme dados levantados pela empresa de informações financeiras Econômica. Descontando a inflação, de 4,3% conforme o IPCA, o ganho real foi menor que 1,5% em 12 meses.

Regulação protegida?

Os executivos do setor ponderam sobre o mercado de previdência privada com muitas proteções. É um setor bastante regulamentado, com acompanhamento da Susep, em que empresas são fiscalizadas e cobradas por essas reservas técnicas e contratos de seguros. Tudo para garantir que o participante receba ou aplique as condições acertadas no contrato.

O superintendente de produtos da Brasilprev, Sandro Bonfim, que responde pela maior empresa de previdência privada do país, disse que as condições de rendimento das carteiras mudaram. Em vez de inflação superior a 4%, os gestores estão oferecendo hoje não mais que um rendimento equivalente ao IPCA mais 2%.

Correr mais risco

Quem tem previdência privada, mas ainda está na fase de contribuição não deve se preocupar neste momento com esse risco. Por dois motivos: primeiro porque os gestores já estão mudando o formulário de aplicação de recursos, buscando ativos que renderam mais que renda fixa, como ações, fundos imobiliários e fundos multimercados.

Segundo, porque as empresas de previdência privada não estão mais comprometidas com o pagamento de renda mensal vitalícia com rendimento de 4% ao ano, como ocorre no passado.

Mas é consenso no mercado que os investidores hoje precisam autorizar os gestores dos planos de previdência a correr mais riscos . Sandro Bonfim diz que o mercado já está disponível se adaptando a essa realidade. Assim, tem mais dinheiro indo para fundos de ações e multimercados. “Em 2017, cerca de 92% das alocações são para renda fixa. Hoje, essa queda caiu para 40%, enquanto 60% das novas aplicações estão indo para fundos multimercados e ações”, afirmou.

Ao aplicar mais dinheiro em ações que em títulos do governo, os gestores assumem mais riscos. Mas como são as aplicações de longo prazo, o retorno é maior, aponta os profissionais. Para comparar, os fundos de previdência do tipo “ações indexadas” renderam 31,94% no ano passado, conforme dados da Economatica.

Migração de conservadores para agressivos

Dessa forma, a participação ou o sócio da TAG Investimentos, Marco Bismarch, que administra mais de R $ 7,5 bilhões, os profissionais de mercado adotam o controle ou o rendimento dos planos de previdência e mudanças de economia para gerar renda aos participantes, não futuro. “Temos visto um perfil de investidores mais conservadores para produtos mais agressivos”, disse.

Ainda assim, uma previdência privada é um mercado de investimentos que representa um “grande desafio” para os gestores, segundo ou coordenador de alocação da XP Investimentos, Felipe Dexheimer. “Uma pessoa de 33 anos, por exemplo, que está começando a ter uma previdência privada hoje, se aposentar aos 65 anos, vai contribuir por 32 anos e usufruir por quase 20 anos. Acontece muita coisa nesse tempo”, disse o profissional da maior plataforma de investimentos do país.

Fonte: UOL

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