Negociação desses contratos por pessoas físicas cresceu 75% em um ano e 46% em abril; mas muitas vezes investidores não se atentam aos riscos

 

O número de investidores pessoas físicas na bolsa tem crescido exponencialmente a cada mês. E essas pessoas têm explorado cada vez mais as inúmeras oportunidades que existem no mercado. Uma delas é a operação de minicontratosA negociação desses ativos por pessoas físicas cresceu 75,7% no último ano e 46% em abril. Porém, o que muitos investidores não levam em consideração é que nessas negociações eles podem perder tudo e um pouco mais (quase literalmente) do que aportaram.

Uma das principais vantagens dos minicontratos para os investidores pessoa física é o preço. No caso do Ibovespa, por exemplo, o custo para se investir é de R$ 1 a cada ponto do índice. Então, se a bolsa está em 80 mil pontos, o investidor precisa de R$ 80 mil para investir neleNo caso dos minicontratos, esse valor cai para 20%.

Mas tem outro “porém”. Para comprar um minicontrato, essa pessoa só precisa colocar 20% desse valor na corretora (ou seja, 20% dos 20%)Esse valor seria a “margem”, o dinheiro de “garantia” para caso o Ibovespa caia. Nesse exemplo do Ibovespa, o investidor só precisaria colocar na corretora R$ 3,2 mil, ou seja, significativamente menos que os R$ 80 mil do começo do exemplo.

O problema, no entanto, é que caso a bolsa tenha sucessivas perdas, esse dinheiro que o investidor colocou na corretora como margem vai “sumindo” e, eventualmente, ele pode precisar colocar mais dinheiro lá.

Isso acontece porque os preços dos minicontratos mudam a cada dia, acompanhando a movimentação daquele ativo. Então, em um minicontrato de Ibovespa, se a bolsa subiu, ele sobe. Se ela desceu, o preço cai. E esses valores são ajustados todos os dias na carteira daquele investidor que tem o minicontrato. Então, se houve perdas, ele precisa “repor” o dinheiro da margem. Daí a ideia de que ele pode perder tudo (e um pouco mais!).

“Quando você investe em contratos futuros, não investe nada no momento. Mas tem que honrar o contrato no vencimento. Vamos dizer que você está comprado num contrato de petróleo com vencimento em junho de 2020 com valor de R$ 200 por barril. Você terá que pagar os R$ 200 pelo barril em junho. Mas além disso, há os ajustes diários que garantem que ninguém saia correndo no meio do contrato. Imagine que o preço do petróleo caiu para R$ 180. Você perdeu, certo? Afinal, vai pagar R$ 200 por algo que o mercado diz que vale R$ 180. Então, vai ter que pagar o ajuste diário no valor de R$ 20. E isso pode ir acontecendo todos os dias. Se o preço for caindo, você vai perdendo mais e mais“, explica o professor William Eid, da Fundação Getulio Vargas.

Ele destaca, por exemplo, que houve um intervalo de tempo relativamente pequeno entre o pico de pontos da bolsa, no começo do ano, onde ela passava de 110 mil pontos e o seu piso, onde chegou a atingir 62 mil pontos. “Foi uma perda de quase 50%. Imagina quem opera minicontratos de Ibovespa? Precisou colocar muito dinheiro pra cobrir essa perda”, diz. Como o contrato é alavancado, se a bolsa cair 10%, o investidor perde metade da margem (os tais 20% que ele colocou). Se ela cair 5%, ele perde 25% da margem, e assim por diante.

É diferente do que acontece quando se investe em ações ou até mesmo em ETFs (fundos que replicam algum índice, como o Ibovespa), porque as chances de o dinheiro que você investir neles virar pó, é muito baixa. Isso aconteceria se a empresa que o investidor tem ações falir, ou se a bolsa cair a 100%, duas possibilidades que parecem remotas, vamos combinar!

“Nos outros ativos, se você comprou R$ 1 mil em ações e a empresa foi a falência, você perde os R$ 1 mil. Mas as empresas da bolsa irem falência é um evento raro, certo?! O Ibovespa não vai cair 100%. Já nos contratos futuros, você opera com mais dinheiro que tem, é o conceito de alavancagem. A gente tem R$ 2 mil, mas consegue operar muito mais no mercado futuro. Por isso há a possibilidade de você perder tudo que colocou e ainda ter de pagar por aquele dinheiro que não colocou ali”, afirma o professor.

Investir alavancado, ou seja, investir mais do que o patrimônio que você tem, pode ser o céu ou o inferno para qualquer bolso. E é assim que se opera no mercado futuro aonde estão os minicontratos. Se você ganha, pode embolsar muito mais do que se estivesse comprando ações no mercado à vista (aí está o céu). Mas se perde, pode perder nesta mesma proporção (não preciso dizer que este é o inferno).

Por isso, esse aumento da participação de pessoas físicas em minicontratos é positivo, porque mostra uma sofisticação na forma de investir dessas pessoas. No entanto, também preocupa porque fica a dúvida se dentro de todo este aumento todos esses investidores individuais sabem o que estão fazendo? Há uma grande chance de nem todo mundo saber o risco exato que está tomando.

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