O mercado imobiliário não será o mesmo depois da Covid-19

Quando terminar o corrente período de necessário isolamento social por conta da Covid-19, ao que tudo indica, entraremos em uma nova fase, menos rígida, mas ainda pautada em distanciamento físico e duradoura. No ‘novo normal’, quais das mudanças que estão ocorrendo no mercado imobiliário em meio ao auge da pandemia permanecerão? E que outras devem surgir? 

A partir da visão de diversos especialistas, é possível vislumbrar um tanto desse cenário futuro. O que já dá para saber também é que as alterações serão tão mais profundas e quiçá irreversíveis quanto mais tempo durar a quarentena – e um eventual lockdown.

Confira algumas dessas transformações: 

 

1) As características das demandas vão se modificar em praticamente todos os segmentos imobiliários.

No residencial, por exemplo, a longa permanência dentro de casa nas últimas semanas e a perspectiva de que a vida não voltará a ser como antes devem aumentar o desejo por imóveis mais amplos, com espaços de respiro (como varandas) e adequados às necessidades de home office. Simultaneamente, a preferência por regiões urbanas mais centralizadas tende a perder força, já que a frequência de deslocamentos ao escritório deve se reduzir.

 

2) A disposição e as condições para aquisição de imóveis também serão outras.

Por um lado, com o aumento do desemprego, a disponibilidade de renda vai ficar menor e a concessão de crédito imobiliário, mais rigorosa, dificultando as vendas, sobretudo a pessoas físicas com fins de moradia. Por outro lado, do ponto de vista dos investidores, a atratividade dos ativos imobiliários promete subir diante dos juros extremamente baixos da economia. Além disso, a relação das famílias com suas residências ficará muito mais intensa, acentuando a percepção da casa como porto seguro e proteção financeira. “Isso joga muito a favor do mercado imobiliário, em que pese todo o azedo da história com relação à pandemia em si, que é terrível”, observa Mauricio Eugenio, diretor da Agência NewE, que tem entre seus clientes Cyrela, Helbor, Tegra, Abyara, Benx Incorporadora, Four Seasons e outros tantos pesos-pesados de real estate.

 

3) O mercado de reformas deve crescer muito.

Inclusive contemplando imóveis locados, para ajustar os espaços ocupados minimamente às novas reivindicações. 

 

4) O uso de drywall.

Que nunca havia emplacado fortemente no Brasil, tende a se disseminar para proporcionar plantas mais personalizadas.

 

5) O marketing imobiliário vai, mais do que nunca, se sustentar em dados e capacidade analítica.

É o que Romeo Deon Busarello, diretor de Marketing e Transformação Digital da Tecnisa, chama há tempos de ‘Matemarketing’. Avanços em conhecimentos de exatas serão, portanto, fundamentais aos profissionais da área. 

 

6) A adesão ao marketing digital deve crescer substancialmente.

As empresas de real estate – setor que, grosso modo, ainda o adotou pouco na comparação com outros mercados. Espera-se que sejam priorizadas principalmente três vertentes: estratégias de mídia digital voltadas aos objetivos de cada negócio (inclusive aproveitando a oportunidade de anúncios online mais baratos, uma vez que o preço se estabelece via leilão e cedeu com a evasão recente de anunciantes); produção de conteúdo com foco em SEO, ou seja, otimização para mecanismos de busca na internet, buscando bom posicionamento orgânico e exposição gratuita; e integração entre CRM, e-mail marketing, whatsapp e outras ferramentas tecnológicas para aproveitar ao máximo os leads coletados. “Eu focaria essas três frentes, que têm um potencial absurdo de retorno”, diz André Palis, fundador e diretor de Vendas da Raccoon Marketing Digital, em cujo portfólio estão clientes como a MRV.

 

7) A psicologia passará a ter uma importância central nas táticas de vendas e relacionamento com os clientes imobiliários.

Segundo Busarello, vamos entrar num pós-Covid com menos estratégia e mais psicologia.

 

8) Os estandes voltarão à voga.

Entretanto, reposicionados ao novo contexto de distanciamento social, seguindo protocolos de segurança e higiene. No futuro, os plantões não serão mais apinhados de gente e se converterão, essencialmente, em instrumentos de fechamento de vendas para os corretores. O estande não vai mais receber duas mil pessoas, mas a incorporadora terá de falar com todas elas. Os ingredientes são os mesmos, moldados a uma política de afastamento físico, resume Mauricio Eugenio.

 

9) Os corretores de sucesso terão uma ‘alma digital’.

O que vai muito além de usar algumas ‘armas digitais’, como contas em redes sociais. Isso vai exigir disponibilidade de tecnologia e equipamentos e, principalmente, evolução em competências e requalificação de modo ininterrupto. Entre as habilidades-chave requeridas, estarão o cultivo de relacionamentos e a gestão eficiente de leads. Os que entenderem essa reconfiguração e corresponderem a ela terão grandes oportunidades.

 

10) O que está sendo testado online.

Vem funcionando bem e tem agradado ao público dificilmente será abandonado, até porque, na quarentena, mesmo pessoas pouco afeitas ao universo digital aderiram a ele nas atividades do dia a dia. A nova realidade do setor imobiliário será uma combinação do que existia no pré-Covid e de processos muito mais digitalizados. “Mas a vida não vai ser 100% digital”, assegura Eugenio. Haverá dois universos: o físico com limitações e o digital como instrumento de relacionamento e qualificação da venda. Já Busarello destaca que, no campo das experiências do mercado imobiliário, tendemos a continuar no ‘antigo normal’ no curto prazo e a observar transformações mais substanciais apenas na sequência da chegada da tecnologia 5G. Com ela, haverá impactos principalmente do ponto de vista de formatação de casas inteligentes, o que criará novas maneiras de as empresas do setor ganharem dinheiro, bem além da transação de metros quadrados; adicionalmente, existirão progressos na comercialização – os tours virtuais em imóveis, por exemplo, vencerão dificuldades técnicas que ainda persistem e se livrarão de desafios de higiene colocados hoje pela necessidade de uso de equipamentos especiais para proporcionar uma experimentação mais verossímil.

Cabe destacar que tão relevante quanto tomar ciência dessas mudanças no mercado imobiliário é que seus profissionais se preparem para elas. Nesse sentido, o conselho de Busarello é crucial:

“O que nos trouxe até aqui não é o que nos levará adiante”

Fonte: Giovana Carnio – Linkedin