Copom mantém Selic a 2% ao ano, mas o tal do ‘forward guidance’ balança; entenda o que é

Indicação de juros mantidos onde estão por algum tempo, sem motivos para subir, mudou. A então mínima histórica de 6,50% ao ano, juros básicos começaram a renovar patamar recorde em agosto de 2019, e seguem parados desde agosto de 2020

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) do Brasil manteve nesta quarta-feira (9) a meta para os juros básicos (Selic) em seu piso histórico de 2% ao ano. O nível foi tocado pela primeira vez em agosto, e segue o mesmo pelo terceiro encontro consecutivo do colegiado.

Trata-se da taxa de referência mais baixa da série histórica iniciada em 1999, quando o nível de preços no Brasil passou a ser regido pelas metas de inflação. Ficará em vigor pelo próximos 42 dias, quando acontece nova reunião.

A decisão foi unânime tal e qual eram as apostas do mercado, de Selic andando de lado até 2021. Mas se você está entre aqueles que esperava pela queda do “forward guidance”, ele ainda segue. Mas balança.

  • E se você não tem a menor ideia do que seja esta expressão, ela nada mais é do que uma “orientação futura” dada por uma autoridade monetária. E Banco Central avisou, há poucas reuniões, que os juros ficariam em 2% ao ano por algum tempo, sem motivos em suas planilhas para subir tão cedo.

Ao anunciar a decisão de hoje, o BC manteve a tal orientação de nome empolado. Surpreendeu, no entanto, ao avisar, no final do comunicado, que não garante que o “forward” sobreviva aos próximos.

A inflação de agora, acima da meta, mas dentro do intervalo de tolerância, incomoda o seu bolso. Mas não é uma grande preocupação nas planilhas da autoridade monetária a ponto de motivar uma alta dos juros no curto prazo. O horizonte pelos próximos semestres, esse sim, não é dos melhores. E a indicação de juros parados em 2% ao ano caminha para, “em breve”, sair de seus comunicados.

“Veio uma surpresa que é a possibilidade do fim do ‘foward guidance’ devido a reversão da tendência de queda nas expectativas de inflação”, avalia Flávio Aragão, sócio da 051 Capital. “Ou seja, caso as expectativas de inflação sigam sua escalada, o Copom deve iniciar logo no primeiro semestre o aumento da taxa básica de juros.”

“O Copom reconhece que a manutenção do ‘forward guidance’ se deteriorou com as pressões recentes de inflação”, diz João Beck, sócio da BRA Investimentos. “No entanto, ressalta que isso não implica em uma alta automática da Selic, pois a economia pode continuar necessitando de estimulo elevado, frente às incertezas quanto à evolução da atividade.”

O que é inflação? E por que combatê-la?

A meta do Banco Central neste ano é entregar uma variação média dos preços medida pela IPCA de 4% em 12 meses, com intervalo de tolerância de entre 2,5% e 5,5%. A última medição feita IBGE, medida pelo IPCA, aponta inflação acima do centro da meta em novembro, aos 4,31% ao ano. Para o ano que vem a meta será de 3,75% e, em 2022, de 3,50%.

A ideia de ter juros baixos, em linhas gerais, é simples. Diminuir o custo de empréstimos e financiamentos para estimular o consumo, de modo que os preços voltem a se aquecer. Ao passo que, subir juros, tende a forçar o efeito contrário.

Outro efeito esperado por estímulos monetários é que ações e e outros ativos “reais”, como imóveis e mesmo ouro, mantenham fôlego, dadas as poucas opções melhores na renda fixa.

Fonte: Valor Investe