Conheça os 15 fundos multimercados com os maiores retornos

Um multimercado não tem esse nome à toa. A possibilidade de aplicar o dinheiro dos cotistas em diversos segmentos ao mesmo tempo traz a eles duas importantes características. A primeira é a diversificação, que acaba diminuindo o risco em relação a fundos de ações puros. A segunda é a complexidade, o que torna mais difícil entender a estratégia do gestor.

Em 2019, os 15 fundos multimercados que tiveram o maior retorno renderam em média 27,2%. Esse percentual está abaixo do Ibovespa, que subiu 32% no ano passado. Mas é muito acima do índice de referência da renda fixa, o CDI, que em 2019 rendeu apenas 5,96%. O levantamento foi feito pelo economista do Valor Investe Marcelo d’Agosto com base em dados da plataforma Morningstar e leva em conta fundos multimercados com mais de R$ 100 milhões de patrimônio líquido e 200 cotistas.

O que esses gestores fizeram para dar um resultado tão bom? A resposta não é simples, pois cada casa tem sua estratégia. Mas é certo que o resultado foi conseguido com a combinação de várias apostas.

Na essência, o multimercado pode colocar dinheiro em ações, juros, câmbio e commodities no Brasil ou lá fora. A proporção e limite de cada aposta depende do mandato do fundo e da disposição do gestor em assumir riscos.

v A antecipação por alguns fundos da sequência de corte de juros no Brasil ajudou no primeiro semestre, mas quem garantiu o pão em casa foram as ações. A bolsa de valores local foi bem no ano, com o Ibovespa, seu principal índice, batendo sucessivos recordes de pontuação. E quando a bolsa vai bem, é mais fácil ganhar junto.

15 fundos multimercado mais rentáveis em 2019

Estratégia das gestoras

Os quatro primeiros fundos multimercados do ranking se saíram bem justamente por manterem boa parte da carteira em ações. Logos, Solana, Dahlia e Távola estão otimistas com a bolsa para 2020, apesar de saberem que não será tão fácil encontrar barganhas como estava até agora. Se o conflito entre Estados Unidos e Irã não virar uma guerra, já tem gestor prevendo que o Ibovespa chegue a 250 mil pontos (hoje está em torno de 115 mil pontos) até 2022.

Estimamos um aumento de 15% ao ano para o crescimento de lucros das empresas daqui até 2022 e isso justifica o potencial de alta para a bolsa”, afirmou o gestor da Dahlia Capital, José Rocha, durante evento promovido pela XP Investimentos em São Paulo no início de dezembro.

Leia também: Ibovespa pode chegar aos 250 mil pontos até 2022, diz gestor da Dahlia Capital

Contudo, nem todo mundo aproveita as oportunidades do mesmo jeito. O modus operandi pode mudar de gestora para gestora. Enquanto LogosSolanaDahlia e Távola são mais focadas no longo prazo e na análise do cenário macroeconômico e microeconômico (números das empresas), há fundos, como o Canvas Vector e o Giant Sigma que gostam de girar muito os ativos da carteira.

Na lista estão ainda três dos fundos do tipo ‘hedge’: Perfin Equity Hedge 15, Ibiúna Hedge STH e Itaú Personnalité Hedge Plus. De uma forma geral, isso significa que o fundo tem mais liberdade para alocar o dinheiro dos cotistas da forma que quiser. Podem fazer operações de “day trade” (compra e venda de ativos no mesmo dia) com ações ou outros ativos, como o dólar. Podem, inclusive, dependendo do mandato do fundo, fazer arbitragens, vendas a descoberto ou alugar ativos. São mais arriscados mas, se a estratégia funcionar, se dão melhor que a média.

Conversamos com duas casas de análise para mostrar detalhes sobre suas estratégias vencedoras no ano. Elas mostram claramente que, no multimercado, não há fórmula de bolo.

Grande destaque

O fundo “Logos Total Return”, que tem Luiz Guerra como líder da equipe de gestão, foi o primeiro colocado no ranking de fundos multimercados, com retorno de 116% no ano, bem distante do segundo colocado, o “Solana Absoluto”, cujo retorno somou 39% em 2019.

O que fez o Logos Total Return ir tão bem? A despeito de sua classificação como multimercado, seu forte mesmo é açõesPara se ter uma ideia, cerca de 67 pontos percentuais do retorno total do fundo no ano vem da alocação em bolsa. Outra parte (8 pontos percentuais) veio de commodities e 6,5 pontos percentuais vieram de juros. Estes números consideram o desempenho até o fim de novembro.

“Estamos animados com bolsa, mas a estratégia precisa ser mais seletiva para ano que vem”, comenta Guerra, gestor do fundo.

A gestora ganhou dinheiro com as apostas no setor de saneamento de energia, com papéis da Sabesp, Cemig, Copel e CPFL, por exemplo, que subiram 95%, 9%, 135% e 25% em 2019, respectivamente. Mas o resultado foi pulverizado em diversas ações, uma vez que a própria estratégia do fundo não é de concentração em poucos ativos.

Trabalhamos com 20 a 30 ativos na carteira. Apesar de estarmos concentrados em Brasil, também investimos na América Latina”, diz Ricardo Vieira, sócio e diretor de Operações da Logos.

A gestora gosta de girar a carteira, de comprar e vender ativos de forma ‘casada’, o que é chamado no mercado de tese assimétrica. E aí vale comprar ou vender ações, commodities, títulos públicos e moedas.

Um exemplo foi a aposta que a Logos fez na compra de ações da Vale e na venda de minério de ferro. Em suas análises, a Logos percebeu que o valor do minério de ferro embutido na cotação da ação da Vale estava abaixo do preço do mercado e esperava que isso mudaria. No fim, acabou ganhando nas duas pontas, já que as ações da vale subiram e o minério de ferro caiu.

Isso só dá certo porque a Logos não tem apego às teses de investimento. Sua posição na Sabesp, por exemplo, já mudou muito desde o ano passado. No fim de 2018, a companhia paulista de saneamento respondia por 14% da carteira – a equipe da Logos apostava na valorização com o potencial anúncio de privatização. À medida que a ação realmente se valorizou, a gestora vendeu os papéis e hoje tem uma parcela pequena.

“Não corremos o risco de nos apaixonarmos pela empresa e perdermos dinheiro”, afirma Pedro Guerra, sócio e presidente do Conselho de Administração da Logos.

Quantitativo com cérebro

Diferente de gestoras tradicionais, a equipe de análise da gestora Giant Sigma usa algoritmos já programados para fazer as ordens de compra e venda de ativos. As ordens, porém, vêm de analistas que discutem constantemente quais papéis estão subvalorizados (e podem subir) ou supervalorizados (e podem cair) e quais preços justos de compra e venda.

A ideia é unir o conhecimento do ser humano e a agilidade e eficiência de algoritmos para serem rápidos no gatilho.

“Não gostamos muito do termo fundo quantitativo porque, no Brasil, ele passa a impressão errada de que tem um robô fazendo o trabalho sozinho. Pelo contrário, temos 13 pessoas envolvidas na gestão dos nossos fundos e cada uma traz um elemento diferente justamente para usar a capacidade analítica e para ter novas ideias”, explica Rodrigo Terni, socio fundador da Giant Steps Capital, que já tem oito anos no mercado.

Ele conta que a principal diferença para eles e um fundo tradicional é o uso de tecnologia para fazer pesquisa – a gestora usa inteligência de dados para mapear oportunidades em 20 países – e para operar – mantém entre 50 a 100 operações de ações, moedas, juros e commodities.

Os grandes retornos de 2019 vieram do mercado de ações, especialmente do mercado americano. Por lá, os índices também bateram recordes no ano. O índice S&P 500 teve valorização de 31,49% no ano passado. Outro destaque foi a aposta do dólar contra outras moedas, como o próprio real. Em relação às taxas de juros, eles preferem operar na Europa e nos Estados Unidos.

“2019 foi interessante porque foi um ano que teve uma grande queda de volatilidade. Nosso alvo é um índice de volatilidade 7% (cai ou sobe até 7%) e esteve abaixo disso, de 4% a 5%. É uma volatilidade mais baixa do que gostaríamos”, diz Terni.

Por que alguém gostaria de mais volatilidade? Com mais emoção, é mais fácil encontrar oportunidades para ganhar dinheiro rápido (mas, claro, é uma vida bem mais arriscada). Apesar de, em teoria, o fundo multimercado da Giant Steps só poder, por lei, investir até 20% no exterior, essa fatia está toda alavancada.

Considerando o patrimônio e a alavancagem, o fundo está com cerca de 80% lá fora e 20% no Brasil. É essa perna por aqui, que tem títulos públicos mamão-com-açúcar, que deixa o fundo mais seguro do que outros administrados pela gestora, como o Giant Zarathustra.

Fonte: Valor Investi