Carroça na frente dos bois

Olá caros leitores. Hoje vamos falar sobre colocar a carroça na frente dos bois. 

Um cliente me procurou para consulta sobre investimentos, aqui vou chamar de “José”, em uma conversa descontraída tentei entender em que estágio da vida se encontrava, suas atividades e quais objetivos.

Seu caso é interessante me chamou atenção, pois recebeu uma herança dos pais, parte em imóveis e outra aplicada na poupança, queria melhorar a rentabilidade das aplicações, o que é muito bom. Estava empreendendo um novo negócio de energia solar, mas não teve retorno. Sobre os investimentos, me disse que tinha perfil agressivo nos investimentos, queria investir nas ações da Magazine Luiza, com boa perspectiva de crescimento, pelo que leu e alguns amigos indicou estava boa comprar, então gostaria de aproveitar a oportunidade, mas não tinha muito tempo e estava um pouco inseguro.

A minha primeira impressão foi que José estava se arriscando demasiadamente, ou colocando as “carroça na frente dos boi”, vou explicar meu diagnostico, primeiro: José era  formado em logística, tinha experiência no ramo, mas entendia pouco do mercado de energia, varejo e administração de empresas, boa parte do conhecimento de energia solar era do sócio, entretanto o sócio se dedica metade do tempo em outro negócio com a esposa, José estava ganhando experiência, mas perdendo dinheiro, o que levava a pensar que precisa compensar nas aplicações.

Então orientei a vender ou mesmo sair do negócio se não colocasse condições ao sócio de se dedicar 100% a empresa, expliquei que bons negócios são quando, tem gestão, mercado e bons indicadores financeiro, é assim nos investimentos, se ele está querendo investir em empresas de ações a lógica é a mesma. Há uma correlação de empresas que oferece bons dividendos que tem essas três regras, então na empresa de energia solar se aplica mesma regra.

Expliquei ao José que ele não está criando riqueza, e sim consumindo-a, assim seu risco aumenta,

quando investe sem conhecer o negócio como um todo.

Outro ponto que me chamou atenção, foi sobre imóveis e investimentos, pois ele possuía cinco propriedade, mas não tinha tempo de acompanhar e alguns já estavam sem locação mais de um ano, e outros gerando renda, fizemos a conta para demonstrar como o retorno desses imóveis era muito baixo em relação a outros tipos de investimentos. Ele poderia vender e diversificar em fundos imobiliários que teria rentabilidade maior com lastro em imóveis, ter liquidez do seu patrimônio, sem necessidade de gerenciar as manutenções dos imóveis, entre outras necessidades.

Outro erro comum, foi que José estava com um grande valor aplicado em poupança, mas por outro lado, queria comprar ações da Magazine Luiza, com pouco conhecimento sobre renda variável, queria ganhar mais, porém, estava inseguro por arriscar.  

Tentei explicar que o jogo do mercado financeiro não é sobre ganhar, e sim sobre gerenciar riscos. Por isso, ser cauteloso e respeitar seu apetite a riscos é importante, o mesmo método que se aplica em empreender, se aplica nos investimentos. Era necessário estudar, entender sobre a gestão do negócio e seus dados financeiros, para então investir no negócio, do contrário ele seria mais um que entra com dinheiro, e sai com experiência, mas sem dinheiro.

Ele não me deu retorno depois da nossa conversa, não sei se o ajudei ou se o deixei frustrado, mas tentei organizar seu raciocínio, percebo que há uma confusão entre a vontade, perfil e investimentos. 

Adriano Tizzo.

Consultor de Investimentos pela CVM.