Asma e bronquite não são a mesma coisa

Pediatras esclarecem o que são esses dois problemas, cujas complicações são mais frequentes quando a temperatura cai.

A asma é uma das doenças crônicas mais comuns da infância. Falamos que é um quadro crônico porque pode persistir por um longo período. Suas principais manifestações são tosse, falta de ar e sibilos, o popular chiado no peito. No Brasil, estudos apontam que a condição afeta cerca de um quarto das crianças em idade escolar e um quinto dos adolescentes.

Devido às suas manifestações respiratórias, crianças e adolescentes com asma não controlada precisam usar vários medicamentos e com frequência têm de comparecer aos serviços de pronto-socorro – alguns casos podem necessitar inclusive de internação. Essas alterações na rotina causam sofrimento aos pequenos, aos jovens e a seus familiares, impactando na qualidade de vida e levando a dificuldades na sala de aula e nos esportes, problemas de sono, prejuízos à vida social, ansiedade e até depressão.

Em boa parte das situações a asma se inicia logo na infância. Tanto fatores genéticos (presença da doença no pai ou na mãe) como ambientais (o lugar em que a criança vive) podem condicionar seu aparecimento. Entre os estímulos do ambiente, é bem conhecido o papel da exposição a elementos irritantes, como fumaça de cigarro, poluição, poeira e ar frio.

Ácaros, mofo e resíduos de insetos no interior das casas, assim como a exposição a gripes e resfriados, podem desencadear o problema ao causar uma resposta exagerada das vias aéreas, os canais por onde o ar passa até e dentro dos pulmões.

Essa reação exacerbada, conhecida como hiperreatividade, se caracteriza pelo inchaço das vias aéreas e pelo aumento das secreções e contração dos pequenos músculos presentes em suas paredes. Tudo isso propicia um estreitamento das vias, o que dificulta o fluxo do ar. O estreitamento pode ocasionar um ruído característico, semelhante a um assobio ou chiado, o tal do sibilo.

A propensão a essa resposta exagerada é, na maior parte das vezes, fruto de uma hipersensibilidade do corpo a estímulos do ambiente – situação conhecida como alergia. Não à toa, um número significativo de crianças e adolescentes com asma apresentam também outras manifestações alérgicas, caso de rinite e conjuntivite.

O diagnóstico de asma pode ser demorado, porque é preciso observar sintomas que tenham alguma frequência e se repetem em ocasiões diferentes. Em geral, eles pioram à noite ou pela manhã. É bastante comum que a mãe e/ou o pai tenham também a condição ou se recordem de tê-la encarado na infância ou juventude.

Há um exame, conhecido como espirometria, capaz de medir de forma mais objetiva o estreitamento dos brônquios por meio do sopro do paciente. Entretanto, ele depende de uma técnica que apenas as crianças com mais de 6 anos conseguem realizar. Por isso, a detecção da asma nos pequenos tende a ser mais complexa, exigindo um olhar apurado do médico nos sintomas e na história familiar. Testes de alergia, por sua vez, ajudam a entender os elementos desencadeantes das crises.

Dentro do tratamento da asma, quando se conhecem os fatores ambientais que estimulam o quadro, é preciso tomar os devidos cuidados com o ambiente doméstico. Entre os medicamentos receitados, existem os que ajudam a controlar a doença e prevenir as crises e aqueles que trazem alívio imediato dos sintomas. Boa parte desses remédios está acessível sem custo no sistema público de saúde ou em programas como o Farmácia Popular. As famílias devem estar conscientes de que o tratamento da asma pode ser prolongado, muitas vezes por anos.

E a bronquite?

Esse termo é erroneamente usado como sinônimo de asma. E não é a mesma coisa. Ele se refere apenas à inflamação dos brônquios – a asma envolve mais do que isso. Nas crianças, a bronquite é geralmente provocada por vírus e bactérias e tem curta duração. Ela é marcada por tosse úmida, com catarro, e a secreção, abundante, piora com a mudança de posição.

Cabe ressaltar que, com bom acompanhamento e tratamento adequado, a doença pode ser bem controlada, permitindo uma vida normal. Um vínculo de confiança e compreensão entre as crianças ou adolescentes, os familiares e os profissionais de saúde resultará numa parceria bem-sucedida, com grandes ganhos em termos de qualidade de vida – e isso vale tanto para a bronquite quanto para a asma.

* Dra. Vera Rullo é pediatra e presidente do Departamento de Alergia e Imunologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo

Dr. Marcos Tadeu Nolasco da Silva é pediatra e vice-presidente do Departamento de Alergia e Imunologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo

Fonte: Saúde Abril