As ações dos bancos estão baratas na bolsa de valores?

Não há dúvidas de que a pandemia vai afetar os resultados dos bancos brasileiros e que a inadimplência deve aumentar.

Em um cenário econômico comparado ao de tempos de guerra, não dá para dizer que a situação das instituições financeiras é totalmente confortável.

Além disso, com a chegada do coronavírus, começou a tramitar no Congresso uma série de projetos que afetam diretamente os bancos.

Em resumo, as propostas prevêem desde aumento de imposto até um limite para os juros do cheque especial e do cartão de crédito.

Outro elemento importante nessa equação: a taxa básica de juros está em 2,25%.

Dito isso, será que os bancões deixaram de ser queridinhos do mercado?

A resposta direto ao ponto é não. Depois do cataclisma de março, a visão geral de analistas e estrategistas é de que as instituições brasileiras estão preparadas para atravessar a crise.

Ainda que as estimativas prevejam lucros cerca de 10% mais baixos este ano, a expectativa para o ano que vem já é de melhora.

Por isso, e por outros pontos que vamos detalhar a seguir, a análise predominante é de que as ações dos bancos ainda estão baratas.

É também a opinião de Fernando Sampaio, sócio e analista do setor na Brasil Capital, que estava no mesmo debate. “A partir do ano que vem, teremos um cenário de fintechs com menos capital e o mundo todo vai estar mais líquido”, diz.

O que você verá neste artigo:

 

Os bancos estão mesmo baratos? 

Apesar da alta registrada desde 23 de março, quando atingiu o fundo do poço, a bolsa brasileira ainda não conseguiu recuperar as perdas no ano.

No momento, o Ibovespa acumula queda de 18,55% desde janeiro.

Porém, entre os bancos, essa recuperação está mais lenta. Em média, as ações dos bancões ainda estão com descontos da ordem de 35% nesse período.

“O que está sendo precificado hoje é que o cenário de Covid vai durar para sempre, o que não faz muito sentido”, diz Lucas Akira, analista de ações da Absolute Investimentos.

Ele lembra ainda que, quando os juros estão muito baixos, isso impacta diretamente o valor justo das ações. “Ajustando o valuation de hoje pelo juro atual, os bancos estão negociando 40% abaixo do que negociavam no passado, na média.”

Principais bancos versus Ibov entre 2 de janeiro e 19 de junho

ações dos bancos

Fonte: Reprodução Bloomberg

BBDC4, ITUB4, SANB11 e BBAS3: confira os preços-alvos  

O UBS, em seu relatório mais recente, elevou os preços-alvos de todos os bancos sob sua cobertura. Atualmente, o Bradesco (BBDC4) é apontado como seu papel preferido para o setor na América Latina. A previsão passou de R$ 27 para R$ 28.

O Itaú Unibanco (ITUB4) foi de R$ 27 para R$ 32. Por fim, o Santander (SANB11), de R$ 30 para R$ 32.

De acordo com as previsões dos analistas do UBS, o lucro por ação (LPA) deve cair em média 34% em 2020 e se recueprar no ano que vem com alta de 40%.

Ainda assim, a previsão para 2021 é 8% inferior aos ganhos de 2019.

Outro relatório recente que serve de termômetro para entender o momento dos bancos de varejo foi publicado pelo Goldman Sachs. Mais cauteloso do que o UBS, é verdade. Porém, ainda otimista com alguns nomes do setor.

Os analistas do Goldman também acreditam que os bancos brasileiros estão bem preparados para enfrentar a crise. Ou seja, estão com balanços fortes e bom nível de reservas para perdas com empréstimos.

Os riscos, no entanto, também aumentaram. Entre eles, diz o relatório, estão os projetos apresentados no Congresso e que têm como alvo o setor financeiro.

Quem foi rebaixado

Neste mês de junho, o Goldman Sachs rebaixou as estimativas para Itaú (agora neutro) e Santander (agora venda).

Primeiro, porque consideram o Itaú menos atrativo e mais exposto a cartões de crédito.

No caso do Santander, os analistas esperam um aumento das provisões nos próximos trimestres.

Já a recomendação de compra foi mantida para Bradesco e Banco do Brasil.

“Analisando as inadimplências históricas nos últimos 16 anos, identificamos que o Itaú tem mais espaço para se deteriorar, enquanto o Banco do Brasil (BBAS3) já está mais próximo do seu pico”, afirmam os analistas do Goldman.

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Fechamento 19.06.2020 Recomendação Goldman Sachs Preço-alvo Goldman Sachs Recomendação UBS Preço-alvo UBS
Banco do Brasil BBAS3 33,94 compra 38
Banco Inter BIDI4 11,42 venda 7,6
Bradesco BBDC4 22,36 compra 24 compra 28
BTG BPAC11 72 neutro 42
Itaú ITUB4 28,09 neutro 26 compra 32
Santander SANB11 31,34 venda 28 neutro 32
Itausa ITSA4 10,41 neutro 10 compra 12

Banco do Brasil (BBAS3)

Ao manter a recomendação  de compra para Banco do Brasil, o Goldman Sachs diz que as ações do BB estão sendo negociadas a quase 30% abaixo de sua média histórica.

“O Banco do Brasil tem um bom nível de reservas para empréstimos e seu capital está menos exposto a mudanças no câmbio”, diz o relatório.

Além disso, tem uma carteira de crédito menos arriscada (com destaque para consignado) e menos exposição a Pequenas e Médias Empresas. Ao mesmo tempo, conta com um terço de carteira em agronegócio, setor que está crescendo apesar da crise.

“De fato, o valuation do BB está muito atrativo, comprando por metade de seu valor patrimonial”, diz Campos, da XP. “Alguns fatores ajudam no curto prazo, como provisionamento menor e possibilidade de um lucro caindo menos do que o dos outros bancos.”

No primeiro trimestre, o Banco do Brasil (BB) teve lucro líquido ajustado de R$ 3,34 bilhões, resultado 20,1% inferior ao do mesmo período do ano anterior.

Segundo os analistas,  o risco relacionado ao BB é muito mais político do que operacional.

Bradesco (BBDC4)

Um dos diferenciais do Bradesco em relação aos concorrentes é que cerca de 30% de seu resultado vem de seguros, o que é uma boa defesa em momentos de crise.

Outro ponto positivo apontado no relatório do Goldman Sachs é que o banco reduziu significativamente sua exposição a Pequenas e Médias Empresas desde 2015.

No primeiro trimestre, o Bradesco reportou uma queda de 39,8% no lucro recorrente.

Itaú Unibanco (ITUB4)

Para quem manteve recomendação de compra para o maior banco privado brasileiro, um dos fatores que pesa a favor é a XP Investimentos.

Para se ter uma ideia, as ações da XP na Nasdaq acumulam alta de 22,5% e as do Itaú, na B3, queda de 26%.

O Itaú é o maior acionista da XP, com uma participação de 46% e uma opção de compra de mais 12,5% em 2022.

Em relatório divulgado no dia 19 de junho, os analistas do BTG Pactual elevaram o preço-alvo da ação para R$ 26,51. A perspectiva dos analistas é que o lucro do segundo trimestre venha ligeiramente maior que o do primeiro.

Nos primeiros três meses do ano, o Itaú reportou a maior queda de lucro do setor, de 43%, para R$ 3,9 bilhões.

Mas há quem olhe para o Itaú com mais cautela. Ao rebaixar para neutra sua recomendação, o Goldman Sachs ressaltou como riscos uma maior exposição do banco a cartões de crédito e a mudanças cambiais.

Santander (SANB11)

Entre os grandes bancos brasileiros, o único que registrou alta no lucro no primeiro trimestre foi o Santander Brasil (SANB11). Porém, essa não é necessariamente uma notícia positiva.

O que explica o resultado é o fato de  a operação brasileira do banco espanhol não ter feito provisões adicionais para empréstimos, como seus principais concorrentes.

Por isso, a avaliação é de que o banco apenas postergou essa decisão.

Outro fator que pesa contra é sua maior exposição a Pequenas e Médias Empresas, que estão sofrendo bastante na crise.

Por outro lado, há quem aposte em seu potencial de crescimento. “Sérgio Rial tem sido visto como uma pessoa que está fazendo uma gestão diferente no Santander”, diz Lucas Akira.

Riscos: limite das taxas de juros e alta impostos 

Na avaliação dos analistas do Goldman Sachs, os projetos que estão em andamento na Câmara dos Deputados e no Senado e que afetam diretamente o balanço dos bancos, não devem ser votados imediatamente.

Os textos ainda não entraram na agenda de votação. No entanto, eles ressaltam que esse será um risco que continuará “pairando” sobre essas instituições.

Para exemplificar, há casos em que o limite dos juros do cartão de crédito passaria  a ser de 2 vezes a taxa Selic. Outra proposta fala em até 30%, contra os 313% atuais para o rotativo do cartão.

Embora o rotativo do cartão de crédito represente apenas de 1% a 2% dos empréstimos, a estimativa é de que cada redução de 100% na taxa de juros cobrada pode afetar os ganhos de 2% a 5%. O Itaú seria o mais impactado (-5%) e o Bradesco o menos impactado (-2%), com o Banco do Brasil e Santander Brasil entre (-3%).

Além disso, o Goldman projeta que, para cada 5% de aumento da taxa de imposto, os lucros sofreriam redução de 3% a 4%.

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                                                                                                                                                                                                                                                              Fonte: blog da Naira Orscar (eu quero investir)